Introdução
A Jamaica é um país das Caraíbas conhecido pelas suas colinas verdejantes, cascatas, praias paradisíacas e música. Foi aqui que nasceu Bob Marley, um dos músicos mais influentes do século passado, numa pequena aldeia do interior. As paisagens naturais da ilha e o seu impacto nas tendências globais são absolutamente desproporcionais ao seu pequeno tamanho, tornando-a num destino obrigatório para quem procura simultaneamente natureza e cultura.
As zonas mais turísticas encontram-se dominadas por resorts muralhados com tudo incluído, mas optámos por uma abordagem diferente. Nesta viagem de uma semana, explorámos o país independentemente com carro alugado e marcámos estadias no Airbnb e booking.com. Vejamos então os pontos principais da viagem.
Dia 0: Chegada
Aterrámos antes da hora de jantar no aeroporto de Kingston (Norman Manley), vindos da República Dominicana, que visitámos antes. Após passar controlo de passaporte e alfândega, dirigimo-nos prontamente ao rent-a-car. Tivemos logo oportunidade de testar o carro com uma viagem até Montego Bay com paragem apenas para jantar. Passámos esta e mais duas noites num airbnb duma zona residencial perto do centro de Montego.
- Kingston -> Montego Bay (170km; 2h36)
- Portagem (estrada A1): ~2300JMD para classe 1 (pagamento apenas em dinheiro)
DIa 1: primeiro contacto com Montego Bay
1.1. Santuário de aves de Rocklands
- Montego Bay -> Santuário de aves de Rocklands (11km; 19min)
A primeira visita digna desse nome na Jamaica foi este pequeno paraíso nas colinas de Montego Bay. Trata-se de um pequeno santuário dirigido por uma família apaixonada por aves, que funciona desde os anos 50. Aqui temos a oportunidade de contactar com aves nativas, incluindo a ave nacional (uma sub-espécie de colibri com a alcunha de "Doctor Bird").
A existência de guias melhora a visita, visto que conhecem e dão informação útil acerca das várias espécies. Uma das melhores partes é mesmo alimentar as aves com sementes e água açucarada. Como já estão habituados, aproximam-se e inclusive pousam na nossa mão. A entrada é cara mas é uma experiência que, quanto a nós, vale a pena ter.
- Entrada: 25 USD
- Tempo aproximado de visita: 2 horas
1.2. Mayfield Falls
- Santuário de aves de Rocklands -> Mayfield Falls (33km; 1h14)
Esta pequena maravilha encontra-se entrincheirada nas florestas do interior de Montego Bay. Consiste resumidamente em sequências de pequenas piscinas alimentadas por uma nascente de água e rodeadas por trilhos. É um bom local para relaxar por umas horas.
- Entrada: 20 USD
1.3. Dead End Beach
- Mayfield Falls -> Montego Bay (36km; 1h11)
Por fim, conduzimos de volta a Montego Bay para um dos melhores locais para ver o por-do-sol. Esta praia fica na ponta norte da cidade, após a movimentada Hip Strip. A praia faz fronteira a norte com o aeroporto, permitindo-nos apreciar o por-do-sol enquanto vemos aviões a pousar e levantar voo.
Ao chegar, encontramos bancas com snacks, bebida e erva enquanto famílias aproveitam na praia os últimos raios de sol. Mais pessoas começam a chegar para o por-do-sol, principalmente casais, enquanto o movimento do aeroporto continua. Ouve-se também reggae ao longe, que compõe este quadro do que é, de facto, a Jamaica.
Dia 2: Negril
- Montego Bay -> Negril (74km; 1h43)
Passámos o segundo dia na Seven-Mile Beach, uma das praias mais conhecidas da Jamaica e que se estende, como o nome indica, por sete milhas. Aqui a costa dá para oeste, sendo natural que a praia seja conhecida pelos pores do sol, mas também pela areia branca e águas transparentes. É frequentemente referenciada como sendo dos melhores areais das Caraíbas, também. A densidade turística nesta zona faz com que seja um local onde facilmente conseguimos ter aulas ou praticar desportos náuticos como kitesurf ou jet-ski, por exemplo.
É importante notar que a costa encontra-se cravejada de resorts, hotéis, restaurantes e bares. Os resorts encontram-se normalmente fechados a pessoas de fora, mas é possível aceder à praia nos restaurantes e bares. O ponto negativo é que obrigam a consumo e não autorizam comida vinda de fora. No entanto, há segmentos de praia que são públicos e onde apenas é necessário pagar uma pequena tarifa de estacionamento.
- Parque de estacionamento (praia pública): 1 USD
Dia 3: de Montego Bay a Ocho Rios
3.1. Centro de Montego Bay
Esta manhã foi dedicada ao centro da cidade. Não falhámos a famosa Hip Strip, onde comprámos souvenirs e tomámos o pequeno almoço. No entanto, estes metros de asfalto são mais conhecidos não pelas manhãs, mas pelo ambiente noturno, onde a energia dos restaurantes e discotecas se prolonga madrugada adentro.
Os quarteirões centrais não oferecem nada de relevante para ver, e nem mesmo a praça central (Sam Sharpe Square) foge à regra. Esta praça, com o nome de um herói nacional, é uma área de compras, onde várias lojas exibem artesanato e outros produtos locais. A igreja de St. James Parish fica perto e merece um salto rápido. Um local interessante é o Harbour Street Craft and Cultural Village, onde podem arranjar bons souvenirs, caso ainda não o tenham feito na Hip Strip.
- Tempo aproximado de visita: 1h30
3.2. Falmouth
- Montego Bay -> Falmouth (34km; 0h45)
A cidade histórica de Falmouth fica pertinho de Montego Bay, na continuidade da costa norte da ilha. Foi fundada no séc. XVIII e o seu apogeu coincidiu com o pico de produção e comércio de açúcar nesta zona.
No centro histórico encontramos edifícios coloridos e calçada que reflectem o estilo Georgiano. O centro é pequeno e facilmente se vê, com destaque para o tribunal (Falmouth Court House) e a igreja anglicana de S. Pedro (St. Peter's Anglican Church).
Nas imediações, deparamo-nos com a popular Martha Brae's Rafting Village, onde é possível fazer rafting em estruturas de bambu pelo pitoresco riacho Martha Brae. Não tendo tempo para tudo, escolhemos avançar esta atração e fomos diretamente a Nine Mile, a aldeia natal de Bob Marley.
- Tempo aproximado de visita: 1 hora
3.3. Nine Mile
- Falmouth -> Nine Mile (70km; 1h36)
Para chegar a esta pequena vila no interior da ilha, temos que navegar pelos ziguezagues das estradas rurais da Jamaica. A vila gira à volta da lenda do histórico vocalista dos The Wailers, e o único ponto de interesse é mesmo a sua casa de infância.
A casa foi entretanto convertida em museu com visitas guiadas. Pelas várias divisões da casa, encontramos fotografias e recordações da família, bem como vários prémios relacionados com o desempenho e criatividade musical do génio da família. O túmulo de Bob Marley encontra-se também aqui, num local mais elevado a que o guia se referirá como "Mount Zion" e onde acaba a tour.
É uma experiência a considerar se estiverem por perto, visto que compensa largamente o tempo perdido no desvio. Daqui, continuámos às curvas pelo interior da Jamaica até chegarmos de novo à costa, onde dormimos uma noite em Ocho Rios.
- Entrada: 30USD / 4600JMD
- Tempo aproximado de visita: 2 horas
- Nine Mile -> Ocho Rios (44km; 1h13)
Dia 4: Ocho Ríos
Passámos apenas uma noite aqui (link do nosso hotel), nesta cidade costeira conhecida por ser um ponto de paragem de cruzeiros. O nome "Ocho Rios" induz em erro visto que a cidade não é, de facto, atravessada por oito rios. A nossa opinião da cidade não é favorável: é desinteressante, artificial e demasiado voltada para o turismo. No cais, dezenas de taxistas, alguns vestidos com as cores rastafari ou com perucas falsas esperam pelos turistas dos cruzeiros e berram as suas tours às Dunn's River Falls, vendendo-as como uma visita a uma Jamaica verdadeira.
4.1. Dunn’s River Falls
- Ocho Rios -> Dunn’s River Falls (4km; 7min)
Sim, esta cascata que desde 180m em quedas múltiplas poderia ser um dos melhores sítios da Jamaica. No entanto, é também a tour que mais vende nas centenas de pessoas que aqui chegam de cruzeiro e portanto a pior "tourist trap" do país. Todo o complexo é orientado e maximizado para receber as multidões que aqui procuram subir os pequenos terraços criados pela queda de água.
Como se não bastasse, os guias do complexo animam, cantam, gritam e puxam pelas pessoas a fazer o mesmo, transformando este local potencialmente idílico num caos. Na nossa opinião a exploração deste local poderia ser diferente, mas provavelmente não traria tantos lucros.
- Entrada: adultos 25USD / crianças 17USD
- Tempo aproximado de visita: 30-60min (2h se estiverem dispostos a juntar-se à subida da cascata)
Daqui, seguimos mais para este na direção de Port Antonio, a capital da menos conhecida província de Portland, onde ficámos num airbnb por duas noites.
Dias 5-6: Port Antonio
Esta é a região que gostaríamos de destacar nesta viagem. Esta pequena cidade não sofre do turismo de massas de Montego ou Ocho Rios, permitindo-nos aproveitar as praias jamaicanas sem conviver com multidões.
A cidade em si não tem muito mais a oferecer que o seu pequeno centro, a partir do qual uma igreja emerge. Do nosso alojamento, situado numa colina, era possível ver o centro da cidade, o que permitiu algumas boas fotos. Planeámos ficar por aqui duas noites e explorar praias das redondezas. De notar que quando aqui estivemos (junho 2023) as estradas a leste de Port Antonio estavam em obras e cheias de buracos.
O primeiro dia aqui foi passado na praia Frenchman's Cove, um paraíso tropical privado. Fica dentro de um complexo semelhante a resort que exige entrada paga. É um passo extra que assegura privacidade e uma praia quase deserta, o que é essencial visto que a praia não é mais que 20-30 metros de areia rodeada de uma zona rochosa mais elevada. Na praia encontram-se algumas palmeiras que garantem sombra todo o dia, e as refeições são asseguradas por um pequeno bar que serve snacks rápidos e bebida.
- Entrada: 1800JMD
O nosso segundo dia foi passado noutra praia, Boston Beach, um sítio mais procurado por locais. Apesar de não ser privada, é ainda assim necessário pagar o lugar de estacionamento. A praia é mais larga que a anterior mas o trecho de areia é muito fino (ver 2a foto em baixo). A praia encontra-se protegida da ondulação por dois prolongamentos de terra que quase se tocam ao longe, abrigando-a naturalmente. As árvores debruçam-se por cima da areia, protegendo-a do sol em várias zonas. Refeições não são problema, visto que mesmo ao lado encontram-se restaurantes que servem pratos típicos como jerk chicken ou pork (carne de frango e porco cortada aos cubos, cozinhada e temperada com especiarias locais).
- Estacionamento (Boston Beach): 500JMD
Pelas 16:00 deste dia iniciámos a condução de volta, atravessando a ilha para sul na direção de Kingston, a última paragem na Jamaica. Lá, ficámos num hotel barato e muito agradável que podem encontrar aqui.
- Boston Beach -> Kingston (102km; 2h39)
Dia 7: Kingston
Nem sempre a capital de um país é procurada pelo turismo. É o caso de Kingston, que é constantemente trocada pela costa norte e neglicenciada pelos estrangeiros que visitam o país. A grande maioria dos turistas aterra, muitas vezes em charters, no aeroporto de Montego Bay.
Não queremos sugerir que Kingston tem muito para ver. Além disso, a cidade não goza de grande fama em termos de segurança, sobretudo à noite.Visitámos a cidade no nosso último dia na Jamaica, antes do voo de regresso.
Parámos primeiro no Emancipation Park (Parque da Emancipação), um jardim público inaugurado em 2002 para comemorar o 200º aniversário da abolição do comércio transatlântico de escravos. À porta localiza-se uma escultura chamada "Redemption Song", que simboliza a transição da escravidão para a liberdade. É um parque muito popular entre os Jamaicans, que o aproveitam para correr, fazer yoga, caminhar ou simplesmente conversar.
- Tempo aproximado de visita: 30min
A segunda paragem foi na casa e estúdio de Bob Marley, agora convertida em museu. Após a visita a Nine Mile, continuámos a seguir os passos da Lenda até à residência adquirida após a fama mundial. As visitas têm horário pré-definido e são guiadas, passando pelas divisões onde o vocalista dos The Wailers viveu e gravou alguns dos maiores êxitos. O interior da casa foi conservado de acordo com o que era quando Bob Marley aqui viveu, ainda preservando alguns dos seus pertences.
- Tempo aproximado de visita: 1 hora
- Entrada: 25USD
O centro de Kingston não oferece nada de interessante para ver, mas ainda assim a curiosidade levou-nos até Trenchtown pela letra da música "No Woman No Cry". Demos uma volta por lá de carro mas, quanto a nós, não vale a pena visitar também.
7.1. Port Royal
- Kingston -> Port Royal (32km; 43min)
Tendo visitado o que queríamos em Kingston, saímos do centro para ir a Port Royal. É uma cidade histórica fundada pelos espanhóis em 1518, mas que ganhou relevo após a captura da ilha pelos britânicos em 1655 através do comércio.
A prosperidade de Port Royal foi de pouca dura, uma vez que um terramoto a atingiu em 1692, afundando grande parte dos edifícios. Hoje, a cidade mantém o interesse sobretudo para quem gosta de história, visto ser possível visitar não só a cidade velha como também o Forte Charles, construído na altura para proteção contra ataques de piratas.
- Port Royal -> aeroporto Norman Manley (10km; 14min)
Aqui acaba a nossa viagem de uma semana pela Jamaica, um país verdejante com uma cultura singular. Das praias brancas de Negril à história de Port Royal, a ilha revela-se-nos com uma história rica e hospitalidade que personifica a retórica "One Love" de Bob Marley. O legado musical e a religião rastafari que aqui encontrou muitos adeptos faz da Jamaica um destino a visitar pelo menos uma vez. Lembramos que temos a caixa de comentários aberta para dúvidas ou sugestões, caso existam!