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Bahrain: 4 dias pela pérola do Golfo

O Bahrain é um pequeno arquipélago de 33 ilhas no Golfo Pérsico cuja história se desenrola a partir de 2800 AC. Várias civilizações conquistaram a ilha e por aqui permaneceram, moldando os padrões culturais ao seu estilo. O povo Dilmun foi um dos primeiros a aqui passar, povoando não só este conjunto de ilhas como também uma pequena parte da Arábia Saudita e Kuwait, e influenciando em larga escala a identidade do Bahrain atual.

Mais tarde, os Sumérios, Babilónios e Persas acabariam por cá se estabelecer, sobretudo por motivos comerciais e económicos. A competição pela posse do arquipélago levou à construção de castelos e fortes, alguns dos quais podemos visitar hoje em dia. No séc.XIX o Bahrain tornou-se um protectorado do Reino Unido, assim permanecendo até à sua independência, em 1971.

Tal como os seus vizinhos, o pequeno país é rico em petróleo e gás, que são protagonistas na sua balança comercial. No entanto, tem havido um esforço para diversificar a economia com receitas em turismo e banca. Apesar de já não ser uma atividade importante, a indústria das pérolas foi em tempos muito rentável e dinamizou as exportações durante séculos. O "Pearling Path", em Muharraq, mostra esta tradição, é um dos pontos altos do Bahrain e descrevê-lo-emos mais tarde.

Os nossos pontos de interesse

Dia 0:

Chegámos tarde ao Aeroporto Internacional do Bahrain (BAH) num voo da Turkish Airlines, por volta da 1:00. Para chegar à capital, Manama, é possível ir de autocarro ou táxi/Uber. Os autocarros A1 e A2 saem do aeroporto para pontos distintos da cidade, com os bilhetes a custar 0,3BHD (Dinares Bahrainis), ou 0,75€. A rede completa pode ser encontrada nesta página. Um Uber do aeroporto para Manama deverá custar à volta de 5BHD

Tendo encontrado um bom negócio no booking.com, escolhemos ficar um pouco mais longe do centro, no bairro de Al Seef. Gastámos 65€/noite por um quarto duplo no Loumage Suites and Spa. O hotel é muito razoável e dispõe de área de lazer e piscina no terraço, de onde podemos ver Manama. O pequeno-almoço, todavia, não estava incluído.

Dia 1: Manama - Este

No nosso primeiro dia, apanhámos um Uber para a primeira paragem, o Beit Al-Quran. Após a visita, prosseguimos a pé para o Museu Nacional, e depois para a Mesquita Al-Fateh. A distância total a caminhar são 4,5km, parte dos quais numa calçada à beira-mar com uma excelente vista para outra ilha do arquipélago. Ao por-do-sol, retornámos ao centro num táxi para visitar o mercado principal de Manama.

1.1. Beit Al-Qur’an

A nossa primeira paragem é um museu concluído em 1990 e mandado erguer pelo Conselho Supremo para os Assuntos Islâmicos. Neste edifício, encontramos uma vasta coleção de textos do Corão, incluindo uma das primeiras cópias impressas, de 1694 (Alemanha). O museu também acolhe outros artefactos relacionados com a tradição islâmica, e organiza encontros dedicados à arte e cultura muçulmana.

Uma das galerias do Beit Al-Qur'an
  • Entrada: 1BHD
  • Horário: Dom-4ª 08:30-16:30 / 5ª e Sáb 08:30-13:30 / encerra à 6ª feira
  • Tempo aproximado de visita: 1 hora

1.2. Museu Nacional

Perto do Beit Al-Quran, encontramos aquele que é provavelmente o melhor museu do país. Resume a história e a herança cultural do arquipélago, tornando-se o melhor opção para quem não tem muito tempo para aqui estar mas mesmo assim quer conhecer as tradições do Bahrain. Fecha tarde, às 20:00, podendo ser encaixado no fim de um dia.

O edifício em si transparece modernismo desde a sua conclusão, em 1988, e a exposição estende-se por seis grandes salas distribuídas por dois pisos. Cada compartimento aprofunda uma vertente distinta do país, sejam aspetos sociais, cultura, ou arqueologia, por exemplo. Quanto a nós, é algo obrigatório de se visitar no Bahrain visto que nos enquadra e guia por toda a sua história, desde as origens no povo Dilmun, passando pela era Islâmica e desenvolvimento contemporâneo.

  • Entrada: 1,40BHD
  • Horário: 09:00-20:00 (encerra à 3ª-feira)
  • Tempo aproximado de visita: 1,5-2h

1.3. Grande Mesquita de Al-Fateh

A Grande Mesquita do Bahrain é um dos marcos mais importantes do reino, cuja construção demorou 4 anos a completar (1984-88). É a maior mesquita do país e das maiores do mundo, conseguindo albergar simultaneamente 7000 fiéis. Além do óbvio propósito religioso, a estrutura também funciona como centro para educação islâmica, atividade suportada por uma generosa biblioteca repleta de manuscritos religiosos.

Encontra-se aberta a turistas, que são encorajados a explorar os seus detalhes arquitectónicos, história e significado através de uma visita guiada gratuita de uma hora. De notar que não são autorizados calções a homens, e mulheres devem cobrir os ombros e cabeça. Em todo o caso, são disponibilizadas túnicas e abayas a quem não estiver a cumprir as regras de entrada.

  • Entrada livre
  • Horário: 9:00-16:00 (encerra à 6a feira)
  • Tempo aproximado de visita: 1 hora

1.4. Mercado Bab Al-Bahrain

Ao por-do-sol, voltámos ao centro para visitar o principal mercado da capital, Bab Al-Bahrain (ou "Portão do Bahrain"). À semelhança de outros mercados, este também é o epicentro do comércio local, vida social e cultura. O portão do Bahrain, que dá o nome ao mercado, fica na entrada norte e é algo a não deixar de ver.

O rápido desenvolvimento do país nas últimas décadas fez com que o aspecto tradicional do mercado se desvanecesse. Ainda assim, não faltam lojas de têxteis, artesanato, especiarias, roupas e eletrónica. Além disto, também se encontram por aqui alguns bons restaurantes, onde podemos provar pratos e sobremesas locais.

  • Tempo aproximado de visita: 2,5-3h (incluindo jantar)

Dia 2: de carro pela ilha principal

Neste segundo dia, decidimos visitar os pontos mais afastados da capital. Inicialmente pensámos em fazer de autocarro, mas rapidamente descobrimos que alguns dos pontos que queríamos visitar não eram servidos por este meio de transporte. Para facilitar a logística alugámos um carro, que apenas nos custou 13BHD.

2.1. Forte de Riffa

  • Manama -> Forte de Riffa (20km; 23min)

Em pouco tempo chegamos a Riffa, uma pequena cidade conhecida pela sua bonita fortaleza, construída no séc. XIX pelo Sheikh Al-Fateh, que controlava o país nessa altura. A arquitectura árabe tradicional faz lembrar os castelos de Oman, situados mais a sul na Península Arábica.

O Forte de Riffa encontra-se impecavelmente preservado

A estrutura adquire uma forma quadrangular com elementos como torres, seteiras e paredes robustas e espessas de coral, calcário e gesso. É possível entrar em algumas divisões, mas estão vazias na sua maior parte. Percorrendo os corredores labirínticos do forte, encontramos umas escadas para o terraço, de onde podemos observar o deserto e a cidade de Riffa.

  • Entrada livre
  • Horário: 10:15-22:15 diariamente
  • Tempo aproximado de visita: 30-45min

2.2. Árvore da Vida

  • Forte de Riffa -> Árvore da Vida (19km; 27min)

Depois de um percurso rápido pelo deserto e pelos poços de petróleo do Bahrain, chegamos à Árvore da Vida (Tree of Life). Rodeada de areia e pedras, no meio do nada, esta sobrevive sem qualquer fonte de água aparente. Este pequeno "milagre" tem intrigado quer locais, quer cientistas por vários anos.

Uma árvore solitária no deserto

Estima-se que a árvore tenha 400 anos, e a sua capacidade de sobrevivência fez dela um símbolo de resiliência. Ao seu redor foi construído um muro, que protege as raízes do vento e da erosão. Na parte interna deste mesmo muro, encontra-se afixada uma pequena exposição acerca da importância da árvore, bem como algumas explicações para a sua estranha existência.

  • Entrada livre
  • Horário: 24/7
  • Tempo estimado de visita: 15min

2.3. Circuito Internacional do Bahrain

  • Árvore da Vida -> Circuito Internacional do Bahrain (22km; 31min)

Um dos principais motivos do aumento do turismo no país é a inclusão deste circuito no calendário da Fórmula 1. Encontra-se operacional desde 2004 e rapidamente ganhou notoriedade nos desportos motorizados, despertando o interesse de países vizinhos na génese de algo semelhante. As condições do recinto permitem não só a organização de corridas mas também de concertos e festivais.

Em dias sem eventos planeados, é possível pedir ao staff para visitar a bancada central, onde fica a linha de partida. Para os mais entusiastas, há uma loja de recordações alusivas à F1 perto desta mesma bancada.

  • Entrada livre
  • Tempo aproximado de visita: 30min

2.4. Túmulos Dilmun

  • Circuito Internacional do Bahrain -> Túmulos Dilmun (20km; 25min)

Por todo o Bahrain central encontramos grupos de montículos com maior ou menor dimensão, o propósito dos quais já saberão caso tenham visitado o Museu Nacional em Manama. Estes montes têm grande importância e são património da UNESCO, visto serem estruturas funerárias do povo Dilmun, que aqui habitava na Idade do Bronze.

Túmulos Dilmun

A posição social do(s) falecido(s) tinha reflexo no tamanho do montículo. A estrutura era constituída por calcário e arenito, com uma câmara ou grupo de câmaras, conforme se tratasse de uma cerimónia individual ou comunitária. O cadáver era frequentemente enterrado com algumas posses para uso na vida futura, nomeadamente olaria ou jóias.

Estas estruturas são visíveis a partir da estrada, portanto podem ser observadas a qualquer hora, gratuitamente.

2.5. The Avenues

  • Túmulos de Dilmun -> The Avenues (22km; 22min)

A última paragem do dia foi este centro comercial, parte de um franchise Kuwaitiano que se tem expandido pelo Médio Oriente. Está orientado para se assemelhar aos souqs típicos da região, e na altura em que visitámos o Bahrain (2023) fazia sucesso entre os locais.

Quando visitámos ainda se encontrava em construção, sendo que apenas algumas galerias estavam abertas ao publico. Entre as várias lojas, não conseguimos resistir aos gelados, que se vendem em todo o lado aqui. Acabou por ser um bom final de dia, quando o ar condicionado já nos começava a fazer falta.

  • Horário: Sáb-4ª 10:00-22:00 / 5ª-6ª 10:00-00:00

Dia 3: norte e centro financeiro

Após a correria do último dia, tivemos um dia muito mais relaxado e próximo da capital. Ficámos pelo norte para ver os fortes e templos, e depois regressámos para passear um pouco pelo centro financeiro do país.

3.1. Qalat Al-Bahrain (Forte Bahrain / Forte Português)

Ao longo de 4000 anos, este forte foi o principal ponto de defesa do arquipélago a norte. Terá sido construído provavelmente sobre estruturas mais antigas de defesa, corroboradas por evidências da passagem dos Dilmun nesta zona precisa, bem como dos Persas, Gregos e Babilónios. Em 2005, esta fortaleza tornou-se merecidamente património da UNESCO.

No séc. XVI, os Portugueses conquistaram Hormuz, do outro lado do Golfo Pérsico. Estes, por sua vez, controlavam o arquipélago do Bahrain nessa altura, que por arrasto passou para as mãos de Portugal. Nesta altura, os portugueses consideraram prudente reforçar a fortificação da estrutura, cunhando-a com a aparência atual. Daí que hoje este forte também seja conhecido como Forte Português.

As dimensões da fortaleza não têm comparação no país, suplantando os fortes de Riffa e Arad. O complexo inclui o Forte Português, as ruínas gregas da antiga cidade de Tylos, e um museu com restaurante.

  • Entrada: 2,20BHD
  • Horário: 08:00-20:00 (encerra à 3ª-feira)
  • Tempo aproximado de visita: 2 horas

3.2. Templo Barbar

O autocarro 23 percorre muita da distância entre o Forte Português e o Templo Barbar, outro local arqueológico ligado à presença dos Dilmun. O propósito exato do templo é desconhecido, mas pensa-se que seja religioso. Neste local encontraram-se vasos, miniaturas de animais e oferendas, sugerindo que o local seria usado, pelo menos, para rituais ou sacrifícios.

Achámos o local interessante mas infelizmente encontra-se muito degradado. Não está à altura de qualquer outro monumento que víssemos no Bahrain, portanto não achamos a visita prioritária.

  • Entrada livre
  • Horário: 08:00-17:00 diariamente
  • Tempo aproximado de visita: 30min

3.3. World Trade Centre (WTC)

A forma mais prática de voltar ao centro é de táxi/Uber, mas se não se importarem de andar um pouco para sul em direção à Budaiya Highway, conseguem apanhar os autocarros 13 ou X3 (foi o que fizemos). O edifício mais icónico do Bahrain é, incontestavelmente, o WTC. Compreende duas torres gémeas interligadas por três pontes que ostentam ventoinhas gigantes para auto-suficiência energética. Foi construído em 2008, na tentativa de convencer multinacionais e marcas de alta costura a estabelecerem-se no país.

O acesso aos pisos superiores encontra-se restrito a trabalhadores, não parecendo haver maneira de visitantes subirem ao topo. De qualquer forma, as lojas de luxo dos pisos térreos são em si mesmas parte do entretenimento que o edifício oferece. Grande parte das marcas mais conhecidas será encontrada aqui, permitindo a compra de peças de luxo às carteiras mais recheadas.

  • Horário: 08:00-22:00 diariamente
  • Tempo aproximado de visita: 1-2h

Dia 4: Muharraq e Arad

Último dia no Bahrain! Tem sido excelente, mas ainda há coisas para ver antes de partir... Em primeiro lugar, iremos ao último ponto de Manama que queríamos ver e ainda não conseguimos, a Mesquita Al-Khamis. Depois, continuaremos em direção a leste, para Muharraq e Arad.

4.1. Mesquita Al-Khamis

Encontramo-nos perante uma das mais antigas mesquitas do mundo árabe, erigida originalmente em 692, durante a presença do califado Umaíada no arquipélago. Nela encontra-se representada a arquitectura islâmica precoce, da qual o pormenor mais importante são os dois minaretes, que são dos mais antigos ainda em pé.

Mesquita Al-Khamis

Ao longo do tempo, o complexo foi sofrendo alterações para acomodar a crescente população muçulmana. Foi reconstruído entre os sécs. XIV e XV, altura em que os minaretes atuais tomaram forma. Hoje, o que resta são os referidos minaretes, uma sala de oração também do séc. XIV e suas colunas, e segmentos de parede com arcadas.

  • Entrada livre
  • Horário: 08:00-14:00 (encerra à 2ª feira)
  • Tempo aproximado de visita: 45min

4.2. Pearling Path

De Manama partimos para outro local património da UNESCO, em Muharraq. Antes do crescimento da indústria do petróleo e da produção intensiva de ostras pelo Japão, a economia do Bahrain dependia da pesca de pérolas para a sobrevivência.

Hoje, esta atividade é infrequente na ilha, mas ainda conseguimos vislumbrar traços da sua existência. Aqui, o Pearling Path (aproximadamente "caminho das pérolas") leva-nos de encontro aos locais mais importantes da indústria. Consiste numa exposição inicial que nos explica as suas dinâmicas ao longo do tempo, bem como um caminho de 3,5km pelas vielas de Muharraq.

O caminho encontra-se marcado por iluminação em forma de pérola, que é fácil de encontrar assim que se sai da exposição. Em caso de dúvida, poderão sempre consultar o mapa oficial aqui.

Vista da ponta norte do Pearling Path
  • Entrada livre
  • Horário (centro de visitas): 10:00-18:00 (encerra ao domingo)
  • Tempo aproximado de visita: 2 horas

4.3. Forte de Arad

A nossa paragem final é outro forte árabe típico semelhante ao de Riffa, que visitámos anteriormente. Também apresenta um formato quadrangular, com paredes espessas e torres circulares fortificadas nos vértices.

Forte de Arad

A fortaleza data do séc. XV e protegeria o nordeste do arquipélago. É tido como um dos castelos mais bem preservados do Bahrain, e de facto o exterior está bem cuidado. No entanto, internamente está em bastante pior estado que o Forte de Riffa.

  • Entrada: 1BHD
  • Horário: Dom-5ª 12:00-17:00 / Sáb 09:00-17:00 / encerra à 6ª feira
  • Tempo aproximado de visita: 45min

Assim concluímos a nossa rápida mas completa visita ao pequeno Reino do Bahrain. A sua reduzida dimensão não o impede de ser um país fascinante e com uma história única, que poderá ser incorporado numa viagem mais prolongada a outros países Médio Oriente. A caixa de comentários está, como sempre, aberta a perguntas ou sugestões 🙂

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