Avançar para o conteúdo

Damasco, a cidade mais antiga do mundo

Respira-se história em cada esquina de Damasco. A cidade foi destruída, conquistada e reconstruída um sem número de vezes, tendo testemunhado a ascensão e queda de civilizações várias. A sua localização estratégica numa encruzilhada de rotas comerciais acabou por favorecer o seu crescimento como centro de comércio, cultura e poder.

Passaram por aqui as civilizações Aramaica, Assíria, Persa, e Grega, deixando o seu traço indelével na arquitetura da cidade. No entanto, o crescimento de Damasco está inevitavelmente associado ao período Romano, quando a cidade ganhou a alcunha de "Cidade de Jasmim". Foi capital do Califado Umaíada no séc. VII, tornando-se uma peça central na esfera política e religiosa do Médio Oriente, da qual a Mesquita Umaíada é um excelente exemplo.

Fotografia tirada num passeio fora de horas. Com a maioria das lojas já fechadas, podemos ver a quantidade de bandeiras sírias pintadas nas portas de madeira (sinal de apoio ao governo).

Eventualmente, a metrópole acabou por passar para o controlo Otomano até à Primeira Grande Guerra, após a qual transitou para domínio francês. Mais tarde, teve um papel fundamental na proclamação de independência síria e formação da Síria moderna. Durante a Guerra Civil dos últimos anos, foi ameaçada pelos avanços da oposição no terreno mas nunca tomada.

Visitámos Damasco no primeiro e último dias do nosso percurso. No primeiro dia, visitámos o Palácio El-Azm, a Mesquita Umaíada, o Museu Nacional, os mercados e a capela de S. Ananias. A Mesquita Sayyidah Zainab ficou para o último, visto ser já um bocado afastada do centro.

1.1. Palácio El-Azm

A primeira paragem foi este palácio no centro de Damasco. Construído na era Otomana, em meados do séc. XVIII, é considerado um dos melhores exemplos da arquitetura tradicional damascena. Foi edificado por ordem do Pasha El-Azm, um membro importante da família homónima e conhecido pelo seu poder político e administrativo no seio do Império Otomano.

Espelhos, mosaicos e geometria

O ponto focal do palácio é o átrio central. Ladeado por diferentes edifícios e halls, apresenta-se com um repuxo central e pequenos jardins dispersos. As decorações seguem padrões árabes, otomanos e persas, que ao entrelaçarem-se nos dão pistas sobre a história do complexo.

1.2. Mesquita Umaíada

Este é provavelmente o monumento mais importante de Damasco, e um dos edifícios mais relevantes na cultura Muçulmana. A mesquita foi erigida no ano 715, sobre as fundações de um templo romano de Júpiter que já anteriormente teria sido um templo Aramaico.

Somos recebidos por um terreiro dourado amplo, envolto por arcadas cobertas. No centro, vislumbramos uma fonte de mármore utilizada para cerimónias e outros ritos. No interior, o teto é alto, de madeira, e ostenta pinturas alternadas com formas geométricas. Nas paredes, encontramos mosaicos e escritas em caligrafia tradicional. Aqui dentro deparamo-nos também com uma espécie de túmulo onde se conta que repousa a cabeça de S. João Baptista (uma personagem também importante na fé do Islão).

O complexo da mesquita também comporta outras surpresas. Entre elas, o mausoléu de Saladino (Salah Al-Din), um importante líder militar muçulmano. Também visitámos este local, onde tivemos contacto com alguns detalhes da vida desta personagem que toldou para sempre o Médio Oriente.

1.3. Museu Nacional

Também conhecido como Museu Nacional da Síria, este museu alberga algumas das mais importantes coleções do mundo árabe. Foi inaugurado em 1919 e nele podemos ver uma panóplia de itens que comprovam a riqueza civilizacional presente no território sírio. Aqui encontramos artefactos das civilizações Assíria, Persa, Fenícia, Grega ou Romana, por exemplo.

Fachada do museu nacional

Infelizmente, por força da Guerra Civil Síria, o museu teve que se adaptar. Foram encetados esforços para proteger as peças mais valiosas, algumas das quais foram transportadas para locais secretos e mais seguros. Hoje em dia apenas conseguimos ver cerca de um terço da exposição, mas mesmo assim vale o nosso tempo.

1.4. Mercados (Souqs)

A capital da Síria também é amplamente reconhecida pelos seus mercados, forjados ao longo de séculos de trocas comerciais. Além da venda e compra de produtos, uma parte importante da vida social das pessoas processa-se nestas vielas.

Ao circular nos bazaars, devemos também prestar atenção à arquitetura. Os pormenores das ruas e das lojas foram evoluindo a um ritmo diferente do resto do mundo e trespassam a tradição comercial da cidade.

1.5. Capela de S. Ananias

Este espaço hoje subterrâneo foi em tempos a residência de Ananias, um dos discípulos de Jesus. É um dos locais religiosos mais importantes de Damasco, visto que se acredita que S. Paulo foi aqui baptizado. O espaço é compacto e organizado em duas câmaras: uma é atualmente uma pequena capela, e noutra, de apoio, encontra-se uma exposição da vida de S. Paulo.

1.6. Mesquita Sayyidah Zainab

Este templo religioso, nos subúrbios sul de Damasco, tem grande significado para o Islão. O seu nome, Sayyidah Zainab, é inspirado na neta do profeta Maomé. A mesquita é um local particularmente especial para a comunidade islâmica Shia.

Foi construída de acordo com a arquitectura islâmica tradicional, ostentando uma cúpula dourada e dois minaretes que se elevam acima do horizonte de Damasco. O interior é adornado com elementos prateados, cristais, espelhos, escritos e padrões geométricos. Toda esta decoração confere ao interior um tom prateado e uma sensação de luxo e reverência.

É importante notar que há milícias que não aprovam esta visão Shia do Islão, com a adoração de descendentes de Maomé e ostentação de riqueza. Por esse motivo, a mesquita é alvo frequente de ataques terroristas. Estivemos aqui em abril de 2023, sendo que o último ataque tinha sido em 2016. No entanto, ficámos a saber que entretanto houve uma nova ocorrência que matou 6 pessoas. Recomendamos portanto cautela e obtenção das últimas recomendações de segurança antes de visitar este local.

E aqui chegamos ao fim da nossa viagem por Damasco. Por entre vielas labirínticas, mercados movimentados e alguns dos monumentos religiosos mais importantes do mundo, visitar esta cidade é em boa verdade viajar no tempo. A cidade mais antiga do mundo encarna o que imaginamos na típica capital do Médio Oriente, e merece que investamos tempo na sua descoberta.

Etiquetas:

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *