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Visitar a Antártida em 2023

Porquê visitar?

A Antártida é um dos últimos territórios selvagens da Terra. Possui uma envolvência única, com paisagens brancas deslumbrantes e magníficas formações de gelo. A beleza crua deste continente torna qualquer viagem à Antártica uma experiência única e uma conquista sem paralelo para todos os que gostam de viajar.

Não devemos esquecer também toda a vida selvagem que aqui habita, incluindo pinguins, focas, baleias e aves marítimas. Tivemos a hipótese de observar estas incríveis criaturas de perto, no seu habitat natural. Observar milhares de pinguins a deambular pelo gelo ou uma baleia a alimentar-se à superfície da água é uma experiência única e sem paralelo!

Explorar o sétimo continente é, sem dúvida, um marco memorável e que figura na lista de objetivos de muita gente. Representa um desafio pessoal e uma oportunidade de explorar uma parte inóspita do mundo.

Pisar a Antártida é único e tem um significado incomparável para quem gosta de viajar

Os mais destemidos encontram aqui uma ampla variedade de atividades ao ar livre. É possível embarcar em caminhadas com guia, andar de caiaque pelo meio dos icebergs e até acampar em terra! Para os mais corajosos, contempla-se também a hipótese de mergulhar nestas águas geladas.

Os entusiastas da fotografia dedicar-se-ão a encontrar as melhores composições para estas paisagens e a fotografar a vida selvagem. A luminosidade e as formações geladas na água oferecem inúmeras possibilidades para os mais habilidosos.

Como lá chegar?

A maioria das pessoas, incluindo nós, escolhe embarcar num navio que parte de Ushuaia, Argentina. É a opção mais fácil pela disponibilidade de cruzeiros e proximidade à Antártida. Partindo daqui, demora-se aproximadamente 48h para chegar ao sétimo continente através da Passagem de Drake. Estes cruzeiros também são os mais acessíveis.

Outra opção é sair da África do Sul, Nova Zelândia, Chile ou Austrália. Ainda assim, cruzeiros que partem da Austrália, por exemplo, levam cerca de 5 dias para chegar à Antártida, tornando a viagem mais longa no total (25-35 dias). No entanto, partindo da Austrália é possível ver as falésias do Mar de Ross, que imaginamos valerem muito a pena.

A segunda opção mais popular é ir de avião partindo da Argentina/Chile, o que reduz a viagem para 2 horas em vez de 2 dias por mar. No entanto, esta opção apresenta-se como mais cara e retira a sensação de expedição e a antecipação de chegar à Antártica. A própria jornada de navio dá-nos a oportunidade de conhecer outras pessoas, observar a vida selvagem e icebergs, e desfrutar do ar mais puro do planeta. Os táxis aéreos também são menos confiáveis: não são raros os atrasos devido às condições climatéricas.

Devo adicionar as Ilhas Falkland e Geórgia do Sul ao itinerário?

A resposta é fácil e rápida: "sim, sem dúvida". Embora incluir estes destinos prolongue o cruzeiro e consequentemente o preço dispare, as paisagens e vida selvagem a que temos acesso na Geórgia do Sul são praticamente imbatíveis. Observamos espécies diferentes de pinguins que de outra forma não encontraríamos e a experiência geral do cruzeiro sai enriquecida.

Passámos 2 dias completos nas Ilhas Falkland. Vimos locais de nidificação de albatrozes-de-sobrancelha-preta, pinguins a relaxar em praias de areia branca e água transparente, e o curioso contraste entre colinas verdejantes e vida selvagem polar. Port Stanley, a capital habitada por apenas uns milhares de pessoas, é muito pitoresca e também vale a pena visitar.

Já a Geórgia do Sul mereceu 4 dias de paragem. Aqui encontrámos as maiores colónias de pinguins-rei do planeta. A paisagem é absolutamente incomparável: mar azul cristalino, glaciares pálidos, montanhas cobertas de neve, rios transparentes, um prado verdejante e grupos de pinguins que se dispersam até onde a vista alcança. Portanto sim!, diríamos que adicionar estas duas paragens é uma questão que nem se coloca, na nossa opinião.

Preciso de visto?

A Antártida é considerada um território apolítico, e portanto não um país. Apenas é necessário um visto para o país de onde se esteja a viajar para a Antártida. Sendo cidadãos da UE, por exemplo, não necessitámos de visto para entrar na Argentina (carimbam o passaporte à entrada). É importante ressalvar que a empresa que organiza os cruzeiros necessita de uma permissão para transportar turistas para lá, mas isso é algo com que não nos precisamos de preocupar.

As Ilhas Falkland decidiram voluntariamente não ser um país de facto, visto que necessitam do Reino Unido para questões de defesa de território. A Geórgia do Sul, por seu lado, é um Território Ultramarino Britânico. Independentemente da nacionalidade, todos os passageiros em cruzeiro são considerados excepcionais e entram nestes territórios. Isto aplica-se mesmo que precisem de visto para o próprio Reino Unido.

Melhor altura para visitar a Antártida

A temporada começa no início de novembro, à medida que os dias se alongam no hemisfério sul. O quebrar do gelo faz com que os turistas deste mês sejam os primeiros a pisar a neve prístina. É também em novembro que a vida selvagem retorna aos seus locais de nidificação, sendo possível testemunhar a época de acasalamento tanto de pinguins, como de focas.

Em dezembro, os dias ficam ainda mais longos, proporcionando várias oportunidades para ir a terra. As crias de pinguim começam a nascer, e é hilariante quando notamos que são ainda mais desastrados que os pais. Recomenda-se cautela aos lobos-marinhos macho, que são mais agressivos durante a sua época de acasalamento. Dezembro também pode proporcionar a oportunidade única de celebrar o Natal e o Ano Novo no meio dos icebergs.

Cria de pinguim-rei. Apesar de mais comuns em dezembro, em janeiro ainda vimos bastantes jovens dispersos nas colónias

Em janeiro ainda é possível ver as crias de pinguim-rei com a sua penugem característica. Vimos vários, assim como crias de foca e de albatroz. Neste mês aumenta a probabilidade de avistar baleias-jubarte e as horas de luminosidade atingem o máximo. É importante notar, de qualquer modo, que bom tempo nunca é garantido na Antártida.

Com o prolongar do tempo mais ameno, é em fevereiro que o gelo permite alcançar latitudes mais a sul. É também a melhor altura para ver todos os tipos de baleias. As colónias de pinguins estão no seu auge, com as crias já em fase mais adulta.

Março já é um mês de transição. A época está a acabar, as temperaturas são menos agradáveis e os dias mais curtos. Pinguins e focas ainda estão ativos, mas as baleias começam a migrar de volta ao norte.

Algumas praias da Geórgia do Sul abarcam centenas de milhares de pinguins-rei

Orçamento

Toda e qualquer viagem à Antártida envolve um orçamento compatível com férias de luxo, e provavelmente não haverá sequer um destino mais caro que este. O custo pode variar de acordo com fatores como a duração da viagem, o tipo de acomodação, o transporte, atividades extra, e o mês escolhido para viajar.

Viagens diretas de Ushuaia para a Península Antártica são a opção mais económica, com preços a começar perto dos 6000€ por cruzeiro de 8-10 dias. A adição das Ilhas Falkland e da Geórgia do Sul duplica tanto a duração da viagem como o preço. Partidas a partir da África do Sul ou Oceania envolvem também uma duração de viagem mais longa, e portanto mais cara.

No que respeita à acomodação, o navio acomoda opções para vários tipos de viajantes. Quartos quádruplos partilhados são a opção mais barata disponível, por oposição aos quartos single. Cabines com janela são também mais procuradas que alojamentos com escotilha, e portanto mais caras.

Atividades como navegação em zodiac (barco de borracha para aproximação à costa), mergulho, caiaque, ou campismo podem ou não estar incluídas no pacote de viagem. É importante saber tudo o que o pacote inclui para não ter surpresas desagradáveis a bordo, visto que tudo o que se contrata à parte fica extremamente caro.

Navegação em zodiacs na costa da Antártida

O mês da viagem é também importante. Janeiro e fevereiro são os meses com mais procura e portanto mais caros. Cruzeiros que apanhem Natal e passagem de ano são poucos e também com procura acima da média, o que se reflete na conta final.

Não devemos esquecer também outras despesas extra, mas obrigatórias para a viagem. Seguro de viagem individual é requisitado por qualquer companhia de confiança. Roupa impermeável e equipamento de neve de qualidade são necessários para fazer face ao frio e humidade desta zona do globo. Gorjetas são normais e generalizadas em viagens que envolvem orçamentos desta ordem. Por fim, é necessário sempre contar com alojamentos e transportes pré- e pós-cruzeiro.

Segurança

Este tipo de cruzeiro é considerado seguro para pessoas saudáveis e em forma minimamente razoável. Os principais riscos advêm de condições meteorológicas extremas e perigos como caminhar em superfícies escorregadias ou geladas, e entrar/sair dos botes.

O seguro de viagem deve incluir evacuação e repatriamento. Fizemos o nosso através da WorldTrips (link aqui) e não tivemos problemas em que o aceitassem. O custo varia sempre com a idade e comorbilidades de cada um.

Por outro lado, não é o destino ideal para seniores e pessoas com comorbilidades. Mesmo assim, conhecemos pessoas de mais idade que, apesar das suas dificuldades, conseguiram aproveitar bem a viagem. De qualquer modo, há um médico a bordo e o barco tem uma sala de socorros imediatos. Caso surja algo urgente e impossível de tratar a bordo, o navio retorna a porto seguro. A viagem de volta pode demorar 2-3 dias, sendo importante prevenirmos azares e conhecermos as nossas limitações.

É aconselhável levar anti-eméticos, mesmo quem não tem história de enjoar a bordo. Ondas de 10 metros não são assim tão raras na Passagem de Drake (nós apanhámos ondas de ±5 metros, no máximo).

Procedimentos de biossegurança

Todos os territórios que visitámos exigem protocolos de segurança para proteção do seu frágil ambiente contra contaminação por organismos estranhos. A International Association of Antarctica Tour Operators (IAATO) monitoriza o cumprimento destas regras junto dos operadores turísticos.

Antes de embarcar, todos os pertences são inspecionados, incluindo roupas, equipamento e malas. Isto permite que não sejam introduzidos a bordo items potencialmente contaminantes.

O nosso cruzeiro, Hondius

O operador normalmente fornece botas de borracha para ir a terra, que devem ser limpas e desinfetadas antes de cada desembarque. Nas zonas de saída, encontramos postos de lavagem e limpeza, e a tripulação ajuda a que tudo decorra sem complicações.

É indicada aos passageiros uma margem de segurança de 5m para a vida selvagem, para não prejudicar as suas rotinas. Isto também reduz a transmissão de doenças entre humanos e animais.

A nossa experiência

O nosso cruzeiro à Antártida teve a duração de 18 dias, foi operado pela Oceanwide Expeditions e partiu de Ushuaia, Argentina, em janeiro de 2023. Estávamos mesmo muito entusiasmados para esta viagem, que era para ter sido feita em 2021 até o covid19 nos arruinar os planos. Há alguma diversidade na oferta de cruzeiros para a Antártida. Preferimos esta companhia porque:

1. As regras de conservação ditam que apenas 100 pessoas de cada cruzeiro podem ir a terra de cada vez (não se aplica à Geórgia do Sul nem às Ilhas Falkland). Os navios desta operadora levam no máximo 140-150 passageiros. O que fazem é dividir-nos em dois subgrupos: enquanto um bate a costa em zodiacs, o outro está em terra e depois trocam. Isto permite maximizar o tempo útil fora do cruzeiro.

2. Possibilidade de explorar as Falkland, Geórgia do Sul e Órcades do Sul (apenas uma breve passagem nestas últimas). Uma viagem destas acontece uma vez numa vida... porque não aproveitar ao máximo? Adicionar as ilhas subantárticas multiplica a diversidade de vida selvagem que encontramos na viagem. Tal como já dissemos, recomendamos muito acrescentá-las ao itinerário.

O número de pinguins-rei na Geórgia do Sul impressiona

3. Ambiente de expedição em oposição a luxo. Todos os guias tinham formação relacionada com a viagem. A maioria eram biólogos com interesse em pinguins, baleias, ou até mesmo plankton. Também tivemos um tutor de fotografia e um astrónomo com quem íamos observar o céu do hemisfério sul. Todos sem excepção deram aulas de frequência opcional relacionadas com as suas habilitações, principalmente nos dias de navegação. Permitiu-nos sentir e valorizar ainda mais tudo aquilo que vimos.

Encontrar um sítio para desembarcar é por vezes complicado, pela densidade de animais nas praias

Como é um dia típico no cruzeiro?

Este é apenas um exemplo e as horas exatas podem variar. A previsão meteorológica (prinicipalmente vento e rajadas) é importantíssima, porque pode dar-nos dias ótimos ou estragá-los completamente. Em dias mais ventosos, as atividades são suspensas e trocadas por aulas. Cada dia é preparado de véspera pelo líder da expedição e o plano é apresentado antes do jantar.

  • 8:00: despertar
  • 8:30: pequeno-almoço (buffet)
  • 9:30-12:00: desembarque/zodiac
  • 12:30-14:00: almoço (buffet)
  • 14:30-17:00: desembarque/zodiac
  • 18:30: apresentação do plano para o dia seguinte
  • 19:30-21:00: jantar (a la carte)
Dois exploradores felizes

Em resumo...

Uma viagem à Antártida é uma experiência memorável que nos oferece uma panóplia de paisagens de cortar a respiração, interações inimitáveis com a vida selvagem e um sentimento de estupefação quando nos deparamos com alguns dos mais virgens territórios no planeta. As recompensas de explorar o sul do globo são imensuráveis e ultrapassam definitivamente qualquer valor pago.

Enquanto navegamos pelos processos de biossegurança, embrenhamo-nos no que significa estar aqui. Todas estas rotinas reforçam o compromisso de proteção desta zona tão frágil do nosso planeta.

Esperamos ter dissipado quaisquer dúvidas que possam existir em relação à Antártida! Caso ainda restem algumas, estamos disponíveis para responder na caixa de comentários em baixo 🙂

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