Introdução:
A região semi-autónoma do Curdistão Iraquiano encontra-se dividida em 4 governados, dos quais Duhok é o mais ocidental. Faz fronteira a norte com a Turquia e a oeste com a Síria, e não recebe tanto turismo como as regiões de Erbil ou Sulaymaniyah. No entanto, uma viagem ao Curdistão não fica completa sem Duhok, um governorado que tem muito para oferecer.
A cidade de Duhok foi fundada há milénios atrás, e durante o passar dos séculos transitou pelas mãos de vários impérios, como por exemplo o Assírio, Babilónio, e Romano. Por esta altura, era um farol do Cristianismo no Médio Oriente até à conquista da Mesopotâmia por Timur, cujo império se estendia até à Ásia Central.
Entretanto, a religião Yazidi ia aumentando de importância na região após o Sheikh Adi se ter estabelecido e fundado a sua própria ordem no vale de Lalish após um período de estudos em Baghdad (séc. XII). O Yazidismo é uma religião monoteística e endogâmica que se baseia na crença de que o mundo foi criado por um Deus, que o confiou a sete anjos. O mais importante destes seria o anjo-pavão (Tawuse Melek).
À medida que os Yazidis aumentaram em número e influência, originaram-se conflitos com outras religiões, nomeadamente a Islâmica. Foram perseguidos durante séculos visto que eram tidos como hereges. Ainda não há muito tempo, o Estado Islâmico (ISIS) dizimou grande parte da população Yazidi de Sinjar (Síria), executando cerca de 5000 pessoas em 2014. Nessa altura muitos refugiaram-se no Curdistão. Hoje, o Iraque é o país com maior número de habitantes Yazidis, e a maioria destes vive nos Governorados de Duhok e Nineveh.
1. Duhok
Duhok é a cidade capital da província homónima. Localiza-se num vale, sendo flanqueada a norte e a sul por cadeias montanhosas. Usámos esta cidade como base para visitar outros locais do governorado. Apesar de não ser turisticamente tão atrativa como Erbil ou Sulaymaniyah, tem um espírito mais acolhedor de pequena cidade. Escrevemos um artigo apenas sobre Duhok que poderão ler aqui.
Em resumo, este é o nosso top de Duhok:
- Barragem de Duhok e cascatas
- Parque Azadi
- Bazar
- Café Peshmerga
- Monte Zawa
2. Alqosh
Nas planícies da região de Nineveh, apenas 40km a norte de Mosul, encontra-se esta cidade predominantemente católica. Devido à sua religião, tem sido ocasionalmente atacada ao longo do tempo. A última vez que tal aconteceu foi em 2014, quando o ISIS tentou dominar a cidade. Felizmente o exército Peshmerga interveio e o Estado Islâmico nunca a conseguiu capturar.
Notámos que os checkpoints eram menos tranquilos nesta zona, e isso acontece porque a cidade já pertence ao Governorado de Nineveh, cuja capital é Mosul, uma cidade que ainda não se restabeleceu completamente da presença do ISIS. Então, estávamos tecnicamente no Iraque federal mas o controlo das planícies é contestado pelo Curdistão. Como fica mais perto de Duhok e o acesso é possível a partir de lá, catalogaremos a cidade nesta secção.
Podemos visitar as igrejas católicas, que é algo que (mais uma vez) não esperaríamos ver no Iraque. Também há uma "mini-Alqosh" na zona norte, que tenta representar a cidade em tempos idos.
Na encosta das montanhas atrás da cidade encontra-se um mosteiro católico que vale a pena ver. O Mosteiro de Rabban Hormizd aguentou as vicissitudes de séculos de história e continua intacto hoje. No entanto já não está ativo porque a sua localização tornava-o muito vulnerável a ataques. Um novo mosteiro, Notre Dame des Semences (Nossa Senhora das Sementes), foi entretanto construído mais perto de Alqosh e substituiu este.
- Tempo aproximado de visita (Alqosh + mosteiro): 3h
- Não se cobram entradas em nenhum destes locais
3. Lalish
A mais importante cidade dos Yazidis, onde o Sheikh Adi estabeleceu a religião. Hoje, o seu túmulo pode ser visitado dentro de uma das estruturas sagradas. Uma série de túneis eventualmente conduz-nos ao seu sarcófago. A cidade está recheada de edifícios dedicados a deuses misteriosos de que nunca ouvimos falar, o mais importante dos quais é, como referido acima, o anjo-pavão. É necessário entrar descalço na cidade (meias são aceites).
O Yazidismo é uma religião perfeitamente desconhecida da maioria das pessoas. É necessário nascer Yazidi; a conversão à religião não é possível. Além disso, o casamento com pessoas de outras religiões exclui os Yazidis do seu culto. Pelo menos uma vez na vida, devem fazer uma peregrinação de seis dias a esta cidade e visitar os locais sagrados que aqui se encontram.
- Tempo aproximado de visita: 2-3h
- A visita à cidade é gratuita
4. Mansão abandonada de Saddam Hussein
Na estrada de Duhok para Amedi, cruzamo-nos com uma mansão que pertenceu a Saddam (coordenadas GPS: 37°05’49.4″N 43°21’19.1″E). Das muitas villas que construiu durante a sua ditadura de 23 anos, esta oferece um ótimo panorama sobre o vale de Amedi, sendo conhecida como o Ninho do Curdistão. Atualmente, encontra-se apenas a estrutura de pé, e no terreno em redor contam-me algumas minas. Está aberta a visitas mas recomenda-se cautela.
Os muros da mansão que dão para a estrada principal preenchem-se de espetaculares graffitis de propaganda militar curda, excelentes para fotografias.
- Tempo aproximado de visita: 45min
5. Amedi (Amadiya)
Construída num planalto natural, Amedi fica muito próxima da mansão de Saddam. A sua elevação confere-lhe proteção adicional contra inimigos, tornando-se muito difícil de conquistar. Até recentemente, apenas uma escadaria escavada na rocha permitia o acesso até lá acima, entrando-se na cidade pelo famoso Badinan Gate. Hoje, os pontos de interesse resumem-se a este portão e à mesquita antiga, erigida no séc. XII.
- Tempo aproximado de visita: 1-2 horas
6. Akre (Aqrah)
Uma das mais encantadoras cidades do Curdistão e considerada a capital do Nowruz, uma festividade importante para os curdos. O Nowruz é celebrado no equinócio da primavera e simboliza um novo ano na tradição curda.
Akre foi construída no ano 580 a.C. na encosta duma cadeia montanhosa, sendo uma das mais antigas cidades continuamente habitadas do Mundo. Algo a não deixar de fazer aqui é a subida à cidadela (no topo superior esquerdo da foto em baixo). Apesar de estar em ruínas, é possível identificar o local de uma cisterna e entrar em alguns compartimentos escavados na rocha. As vistas sobre a cidade valem bem o esforço (a subida demorará uns 30-40 minutos).
A mesquita que se eleva no centro da cidade e as ruelas características também são algo a não perder.
- Tempo aproximado de visita: 3-4 horas
E estão aqui resumidos os pontos altos do Governorado de Dohuk! Questões ou sugestões podem ser colocadas na caixa de comentários em baixo!